Uma das questões freqüentes que surgem
entre os professores que começam a ensinar arte no ensino fundamental ou médio é:
“O que realmente eu poderia dizer a uma criança ao se colocar em frente de uma pintura;
como explicá-la?” Suas dúvidas e insegurança em emitir juízo sobre uma obra de arte, resumem a dúvida de muitos
professores quando se deparam diante de uma imagem. No entanto, mesmo sem o conhecimento
prévio da obra ou do artista em questão, é possível envolver crianças e jovens numa
discussão produtiva sobre um objeto de arte. A discussão terá outra dimensão se
apoiada em algumas categorias norteadoras de uma observação objetiva.
Ver uma obra
de arte implica
muitas leituras entrecruzadas. Quando nos
deparamos diante de uma obra de arte, uma série de indagações nos ocorre: quem realizou
esta obra? Quando foi realizada? Qual a motivação do artista para criá-la? De que
a obra nos fala? Que sentimento nos é despertado? Podemos até mesmo ler numa imagem um
significado tácito ou
implícito que na verdade não estava
na intenção do artista no momento da criação.
Porém, para que o professor seja mais objetivo na ação
pedagógica, apresento aqui, algumas
diretrizes, baseadas na discussão de especialistas no ensino da arte
(1) que podem auxiliar o professor na tarefa de envolver o aluno na apreciação
de uma determinada obra de arte.
I.
Apreciação de uma obra de arte:
Quatro operações sugeridas por
Feldman
Apesar de vários
estudos sobre questões
metodológicas ou sistemas
que possam ajudar na apreciação da obra de
arte (2), não há um modo único e verdadeiro ou até mesmo uma maneira linear de análise.
Isso nos leva a fazer várias perguntas com relação ao objetivo da apreciação ou
crítica em arte. É o objetivo da crítica em arte fazer a pessoa compreender o que
o artista queria com sua obra? Ou mesmo ajudar ao espectador ser consciente de suas
próprias respostas para uma determinada imagem? É o objetivo maior explicitar o conteúdo temático
que a obra sugere? Ou colocar o valor simbólico da obra no contexto histórico? Todas
essas questões são cruciais na crítica ou apreciação da obra de arte, e cada uma
exige um enfoque diferente de abordagem. No contexto educativo, a função pragmática
da crítica em arte é ajudar ao estudante a ver e compreender determinada obra de
arte, dentro do contexto cultural e artístico que pertence; isto é, ajudar ao estudante
ter uma visão crítica da obra de arte. Uma preocupação dos programas ou propostas
de arte-educação atualmente(1) é enfatizar o caráter epistemológico da arte na atividade
pedagógica. Assim sendo,
1 Refiro-me aqui a Edmund Burke Feldman,
Professor da Universidade de Geórgia, USA.
2 Infelizmente as traduções desses
estudos quase não existem. Um trabalho excelente neste campo é de Michael Parsons,
Aesthetics and Education e Compreender a Arte –Editorial Presença.
O livro de Albert Manguel Lendo Imagens; Companhia das Letras, deve também
ser um referencial para quem busca o aprofundamento sobre a compreensão da arte.1
Refiro-me aqui às propostas mais evidenciadas
na Inglaterra (Critical Studies in Art and Design Education); nos Estados Unidos
da América (Discipline- Based Art Education) e no Brasil (Proposta) arte deve ser
tratada na escola como um corpo específico de conceitos e habilidades que deve ser
aprendido e dominado. Portanto, a apreciação da arte ou crítica da arte não apenas
‘explica’ o conteúdo da obra de arte mas se coloca como um processo ou instrumento
de aprendizagem. O que se quer com a apreciação da arte na ‘Proposta Triangular’(2)
por exemplo, é fazer com que o estudante possa entender o objeto de arte (de artistas
de renome ou criado por ele) através de habilidades e conceitos desenvolvidos nas
disciplinas ligadas à arte (disciplinas de atelier, história da arte, crítica de arte).
Esta habilidade não surge
de modo espontâneo
mas sim do
desenvolvimento de atitudes
válidas, baseadas em algumas técnicas ou procedimentos.
Um texto que já se tornou clássico, na ajuda de arte educadores, para esta tarefa
é de autoria de Edmund Feldman(3). O autor dedica uma parte deste livro discutindo
técnicas que possam ajudar educadores e educandos a crescerem como apreciadores
de arte. Para
se ter uma
identificação e conseqüentemente
uma compreensão clara da obra de arte ele
opina que a pessoa deve exercitar sua atenção através de quatro
operações essenciais, a saber:
1- Descrição, 2- Análise,
3- Interpretação, e 4- Julgamento.
Vejamos o que significa cada uma dessas
operações:
1- Descrição: Neste estágio
o autor sugere se fazer uma lista detalhada de objetos e formas contidos na obra;
descrevendo tudo o que se vê. Esse exercício ajuda o observador a se deter mais longamente a observar a obra e ao mesmo tempo descobrir coisas ou detalhes que não haviam
sido captados à primeira vista. Trabalhos tradicionais de arte levam as pessoas
(especialmente as que não têm o hábito de ver arte) a uma descrição quase que narrativa.
Favorável a esta opinião é também Michael Parsons (4). Ele opina que uma obra abstrata
apresenta, quase sempre, desinteresse àquelas pessoas pela ausência de elementos
objetivamente reconhecíveis. Nesse tipo de obra temos
de descrever as formas,
cores, espaço e
volumes que vemos,
adicionados às suas propriedades específicas como áspero, liso, brilhante, vertical,
longitudinal, etc. Descrever o aspecto técnico da obra é também recomendado neste
estágio. Tentar descrever a maneira pela qual a obra foi realizada. Como a tinta
foi aplicada à superfície da tela, como o encaixe da escultura foi realizado, etc.
Deve-se evitar palavras ou expressões carregadas de sentimento ou preferência a
fim de que a descrição da obra seja a mais objetiva possível.
2- Análise: É a observação
do procedimento daquilo que vemos na obra de arte. Aqui, o intento é de descrever
a relação entre as coisas que vemos na obra em estudo. Por exemplo, como as formas
afetam ou se influenciam umas às outras. Esse processo é chamado de ‘análise formal’.
Estuda/se a relação de tamanho, localização das formas no espaço, a relação cor
e textura, textura e superfície, espaço e volume, a relação de valores tonais, a
relação luz-sombra, a qualidade da marca ou
forma, descobrem-se as formas negativas, como também as qualidades emocionais
e idéias transmitidas pela obra de arte. Estas duas operações, descrição e análise,
ajudam a:
1- Promover um completo exame da obra;
(Triangular). Ver Barbosa, Ana Mae T. Bastos - A Imagem no Ensino da Arte.
São Paulo/Porto Alegre; Perspectiva/Iochpe, 1991.
2 Proposta surgida a partir da prática
do ensino da arte no MAC/ USP a partir de 1986.
3 Feldman, Edmund Burke - Becoming
Human through Art; 1970; Obra citada.
Parsons, Micheal J. - How We Understand
Art; Cambridge University Press; 1987. Reprinted 1990/ 92.
2- Diminuir a tendência do observador
em apressar-se por conclusões;
3- Desenvolver habilidade em observação
- condição essencial para a compreensão das
artes visuais;
4- Acumular os fatos visuais que
formarão a base para a interpretação crítica.
3- Interpretação: É o estágio
em que, baseado nos elementos descritos e analisados da obra, o observador dar significado
ao trabalho de arte. Não se tenta aqui traduzir qualidades visuais em combinações
verbais. Usam-se palavras para descrever idéias que explicam as sensações e sentimentos
que temos diante do objeto de arte. Neste estágio, explica-se o trabalho de arte,
qual o seu objeto ou fim, porém não se quer, com isso, explicar o propósito do artista,
a sua intenção. Isto é uma outra questão. A obra não oferece
esta informação. Aqui, afirma-se
apenas o que a evidência visual parece significar. A melhor
interpretação é aquela que se baseia apenas num grande corpo de evidência visual
proveniente da própria obra, como também a que faz a mais significativa conexão
entre a obra e as pessoas que a observam. Como construir uma interpretação? Com
o corpo de elementos observados, formaliza-se uma hipótese,
baseada também nos
sentimentos. Não se rejeita as primeiras impressões. É importante que o espectador
ou crítico pergunte a si mesmo o que há de comum entre essas impressões e as relações
descritas na análise formal. É um exercício para aprender a confiar em si mesmo,
acreditar nas suas observações.
4- Julgamento: Neste estágio
decide-se sobre o valor estético de uma obra de arte. É o momento de explicitar
as razões porque o trabalho em estudo é bom ou ruim. As razões para se julgar um
trabalho excelente ou pobre têm de ser baseadas numa filosofia da arte. O autor
sugere três enfoques filosóficos sob os quais uma obra pode ser justificada: formalismo,
expressionismo e instrumentalismo.
Formalismo - Esta corrente
enfatiza a importância e a maneira de como os elementos visuais se agrupam ou
se relacionam na obra de arte. A harmonia das partes que compõem o todo é essencial
para quem analisa a obra sob este enfoque filosófico. Mas como decidir que cada
parte se harmoniza entre si? Não há uma regra lógica, o crítico ou o professor tem
que se apoiar na impressão (ou nas sensações). A harmonia expressa através do justo
equilíbrio dos elementos que formam a obra provoca ao espectador uma sensação de
equilíbrio e bem-estar.
Expressionismo - Os que optam por esta linha se interessam pela profundidade
e intensidade da experiência provocada pelo contato com a obra de arte. Para estes
um trabalho de arte excelente pode ser feio. Arte deve comunicar idéias e sentimentos,
vigorosamente, com convicção. Baseiam-se em duas regras para julgar a excelência
de uma obra. O trabalho bom é aquele : a) que tem força em provocar emoção; b) que
comunica as idéias de maior significância. Segundo este enfoque um grande trabalho
surge da vontade de comunicar a experiência vivida pelo artista. A obra pode ser
abstrata. Mas abstração deve ser um instrumento que o artista usa para intensificar
a expressão do significado da experiência vivida. Assim, a arte tem de ser convincente,
real e emocionalmente
efetiva. A contemplação
passiva de formas
organizadas é irrelevante. Ao contrário, importante é o uso de sinais e símbolos,
como também a apropriação de metáforas e analogias.
Instrumentalismo - Como o formalista é interessado na beleza, o expressionista
na profundidade ou intensidade de comunicação, o instrumentalista é interessado
na efetividade de propósito
da arte. Arte
a serviço das necessidades
humanas estabelecidas por instituições sociais, como a igreja, o estado, o econômico,
o político. A excelência de um trabalho de arte para o instrumentalista está na
força que a obra pode mudar o comportamento humano de quem a contempla. A obra deve
provocar o desejo. Uma grande obra se torna real apenas quando serve uma causa
importante. As qualidades técnicas e imaginativas do artista precisam ser organizadas
por uma idéia que seja maior ou mais importante do que as emoções íntimas do próprio
artista. Assim, uma técnica excelente aplicada a um propósito trivial resultará numa obra medíocre.
A grandeza da obra está na grandeza do propósito. Para o instrumentalista as formas
“perfeitamente organizadas” significam a conexão mais próxima entre a aparência
e a intenção social da obra de arte.
De acordo com Feldman, o proponente
do método descrito, compreender e justificar o valor de uma obra de arte pode ser
feito sob as diretrizes de qualquer um desses enfoques filosóficos. Porém, para
o principiante na prática
da apreciação crítica é importante
iniciar com o exercício da descrição,
seguido da análise
e interpretação e só então aventurar no campo
do julgamento, fundamentando-se numa filosofia da arte que seja mais apropriada
à obra em estudo.
Complementando as operações sugeridas
por Feldman, mas se aproximando de suas categorias apontadas acima, Rod
Taylor (5) apresenta
quatro pontos fundamentais que ajudam na compreensão do
objeto de arte:
1- Conteúdo: Qual a temática
da obra? Ela trata de que? Trata de um assunto acidental ou é um veículo
que reflete a preocupação
social, religiosa, moral ou
política do artista ou de quem a comissionou? Foi o tema observado diretamente,
de memória ou imaginado? foi tratado de forma representacional (mimética) ou com
exageros deliberados, distorção
ou abstração? Por que? O tema está
evidente na superfície da obra ou está oculto, fazendo-se necessário o uso de alusões
através de símbolos, analogias, metáforas?
2- Forma: Como foi a obra organizada?
Está em harmonia com o conteúdo? Há contradição na organização dos elementos?
Que tipo
de escala cromática foi utilizada? É por exemplo, harmoniosa ou construída
por contraste? Há uma cor predominante, ou duas
ou mais cores
têm igual significância?
Há uma forma
predominante ou é composta de seqüência de formas interrelacionadas? Há formas repetidas,
linhas, ritmos, que determinam o ‘designe’ da obra? A obra possui uma unidade ou variedade de texturas?
A obra se
apresenta com uma
unidade, ou é agradável
em algumas partes e insatisfatória como um todo?
3- Processo: Como e de que a obra foi
construída? Que materiais,
instrumentos, processos e técnicas o artista usou? Como e em que parte deve ter
o artista iniciado a obra? Que estágios deve ter passado a obra do início ao final
da execução? Será que o artista se apoiou
em estudos prévios (esboços, fotografia, maquetes, colagens)? A obra foi executada
rapidamente ou exigiu um período de execução longo? Que tipo de habilidade deve
ter necessitado o artista para produzir a obra?
5Taylor, Rod Educating for Art - Critical Response and
Development; Longman; Essex - UK; 1986; 327pp. Esta obra apresenta os fundamentos
teóricos e práticos da Arte Educação na Inglaterra a partir do início da década
de 80, denominada ‘Critical Studies in Art and Design’.
4- Caráter: A obra lhe afeta
de alguma forma? Ela capta um sentimento ou emoção que você
já tenha experimentado
em outra situação?
Ela passa algum
sentimento sobre a vida ou natureza? Você pode imaginar de que sentimento o artista
era possuído enquanto produzia a obra? Como classifica a obra: silenciosa/ruidosa,
tranqüilizante/ perturbadora, feliz/triste, relaxante/estridente como humor
que ela passa e no sentimento que ela provoca? O seu
humor se conserva inabalado ou a obra em questão o alterou? Se o seu humor foi alterado
pela obra, quais as qualidades desta obra?
Quando um trabalho
de arte atrai
um espectador, acontece certamente pela combinação de alguns ou de todos esses elementos.
Fragmentar a observação da obra limitando-se apenas a um dos quatro aspectos pode
ser pernicioso. Pesquisas têm revelado que visitantes de galerias de arte gastam
apenas uma média de seis a sete segundos diante de uma obra. O uso ou aplicação
sistemática das quatro categorias de Taylor oferece uma contribuição significante
para o aluno compreender uma obra de arte, qualquer que seja a sua natureza.
II. Lendo
Imagens de Albert Eckhout
Como aplicaríamos as idéias acima
apresentadas na leitura de algumas imagens de Eckhout, por exemplo, “A Mulher Tarairu”
(1641, óleo sobre tela, 2,65m X 1,57m; Museu Nacional da Dinamarca.
Talvez a melhor estratégia não seja
antecipar informações, mas engajar o olhar do aluno na observação e discussão
do que vê, através de perguntas instigantes.
Eckhout –“A Mulher Tarairu”,1641,
óleo s/ tela; 2,65 m X Eckhout – Colheita
Tropical, 1640; Óleo s/ tela 1,57m; Museu
Nacional da Dinamarca90 X 90 cm. Museu Nacional da Dinamarca
Operação1: Descreva o que você
vê nessa imagem. Há muitos elementos na sua composição. É possível a identificação
rápida de coisas familiares, mas não é possível
ver tudo ao mesmo
tempo. Observe cada detalhe
fazendo o esforço
de denominar cada coisa.
Faça uma lista
daquilo que você
identificou na pintura.
Organize a lista numa escala de hierarquia, por exemplo, conforme o tamanho.
Operação 2: De que maneira
está essa pintura de Eckhout organizada? Quais os elementos que se destacam? Como
se comporta um elemento em relação ao outro? Qual a cor predominante? Que outras
cores estão presentes na pintura? Que hora do dia sugere a luminosidade do quadro?
Existe um ponto focal de interesse? Qual? A personagem principal parece está em
movimento ou parada? Para onde ela olha? De que maneira está vestida? Que assunto
trata a pintura?
Operação 3: Pelos detalhes
e dimensão do quadro quanto tempo Eckhout deve ter gasto para pintar esta obra? Como ele deve ter
coletado informações para pintar este quadro? Baseados no que vemos na pintura o
que significa essa mulher no centro da paisagem, e o os elementos em volta dela
? Você acha que a mulher na pintura se sente incomodada, confortável ou indiferente?
Conhece outra pintura parecida com esta?
Operação 4: Você gostaria de
ter esta obra na sala de sua casa? Por que? Sugira o motivo para o qual esta obra
foi realizada. Você acha que essa pintura foi criada com alguma função? Por que?
Que sentimento essa pintura lhe passa? Se você pudesse alterar a imagem o que você
faria?
Em 1636 Albert
Eckhout (1610-1666) foi convidado
por Maurício de Nassau
à Pernambuco para fazer registros
pictóricos da fauna,
da flora e
de tipos étnicos
brasileiros. Ficou aqui cerca de oito anos. Sua obra, enviada à Europa, pouco restou
preservada; muitas pinturas foram destruídas
por incêndios e guerras;
mas se encontram no Museu Nacional da Dinamarca 12
naturezas-mortas, com dimensão de 90 X 90 cm retratando frutos e legumes tropicais.
São pinturas que primam pelo detalhe e informação visual realista;
os elementos ocupam o
primeiro plano do
quadro, numa forma de “close-up”, despojados de todos os elementos excessivos, ficando
apenas os frutos da terra contra um céu misterioso. Essas pinturas fazem um equilíbrio
entre a precisão botânica e a sensualidade opulenta à maneira da pintura de natureza-morta
holandesa do período. O trabalho de Willem Kalf, seu conterrâneo, é um bom exemplo
de comparação. Um pouco mais de sessenta anos depois Coorte, também holandês, fazia
naturezas-mortas ao estilo de Eckhout (ver ilustração).
Coorte – Feixe de Aspargos, óleo
s/ tela, 1703
Os artistas holandeses desse período
aprenderam a reproduzir a natureza de maneira tão fiel quanto um espelho que reflete
uma imagem. Das pinturas com temática étnica em grande escala (2,67 X 1,78 m), oito
se destacam pela verticalidade na composição. As plantas e figuras eretas contrastam
contra um horizonte baixo, na altura de um terço do quadro. São figuras isoladas,
de olhar fixo no espectador, como se tivessem pousando para uma foto. Em sua volta,
flores, frutos, animais, parecem denunciar a fertilidade da nova terra. As
pinturas de Eckhout não
só denunciam a origem
e influência do mestre como também refletem o motivo para o qual foram pintadas:
informar ao Europeu como se comporta a natureza do outro lado do oceano. Assim,
também os painéis com tipos étnicos, sempre verticais, queriam desvendar o mistério
do desconhecido, informando visualmente - pois a fotografia ainda não existia -
a diversidade de uma outra cultura e uma outra realidade. Eram pinturas para informar
sobre a flora e a fauna, sobre a relação do homem com a terra, os modos alimentares,
as relações entre as raças, in soma, informavam ao ‘Velho Mundo’ o ‘modus vivendi’
do ‘Novo Mundo’.
IV. Considerações Finais
A exposição da obra de Eckhout aqui
no Recife, por ocasião da inauguração do Instituto Ricardo Brennand é uma oportunidade inédita para o recifense e especialmente para uma grande população escolar
– professores e alunos – da região metropolitana que se beneficiará da ação
educativa proposto pelo programa.
Professores, crianças e jovens de toda região são convidados a ver a obra de Eckhout
e desenvolver o seu olhar numa ação que envolva
o refletir e o fazer arte. Esse programa educativo pretende provocar uma reflexão
e levar esse vasto público à traduzir histórias que se ocultam nas imagens de Eckhout.
São histórias que falam de um tempo remoto (Séc. XVII), histórias que falam dos
costumes e hábitos de um povo, da botânica, da zoologia e da geografia. É, portanto
uma proposta de ensino da arte com o apelo de uma ação interdisciplinar porque as
imagens de Eckhout são possuidoras de matéria prima que servem a vários olhares.
Se os professores e os diretores das escolas souberem usar bem essa oportunidade,
teremos todos aprendido um pouco mais da nossa história, da nossa cultura e da nossa
arte.
Sebastião Gomes Pedrosa
Professor Adjunto Departamento Teoria
da Arte e Expressão Artística Universidade Federal de Pernambuco
Bibliografia
Barbosa, Ana Mãe Bastos A Imagem
no Ensino da Arte. São Paulo/Porto Alegre; Perspectiva/Iochpe, 1991.
Feldman, Edmund Burke; Becoming
Human Through Art; Aesthetic experience
in the school; Prentice-Hall International, Inc. London; 1970.
Parsons, Michael Compreender a Arte, Editorial Presença,
Lisboa, 1992. Parsons, Micheal J. How We Understand Art; Cambridge University
Press; 1987. Reprinted 1990/ 92.
Manguel, Albert Lendo Imagens;
Companhia das Letras, São Paulo,2001. Taylor, Rod Educating for Art - Critical Response and
Development; Longman; Essex - UK; 1986; 327pp
Websites: