sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Arte Contemporânea repensada - Visões proféticas do Vácuo cultural



Do Socialismo ao comunismo silencioso revelado e agora negado.



Reconstrução Conceitual -  Para mim, que tive uma doutrinação marxista da Arte dentro da Universidade nos anos 80, que vejo "a realidade nefasta à que fomos conduzidos através da idéia da "socialização da arte" , tenho agora uma visão sem grandes marcos reais da arte contemporânea, podendo arriscar dizer que esses Grandes Artistas são profetas da desconstrução humana , social, politica, cultural e religiosa, retrato fidedigno da nossa sociedade como um todo, ensaiando a globalização e a nova Ordem mundial. Caminhamos para um vácuo e esses artistas,  contaram essa história através de suas obras,  que foram vistas tão somente  como negação dos preceitos anteriormente apresentados, mas que ao meu ver, profetizaram um futuro nefasto da arte como um todo. Para mim estamos prestes a chegar no vácuo total, onde o "indivíduo" não mais existirá, a não ser como reflexo do todo, sem vínculos culturais, politicos ou  religiosos. Olho hoje para a história da arte como um "Big Bang" caminhando para o  vácuo. Logo não teremos direito a religião , logo não teremos direito ao direito autorial, a propriedade privada e estaremos, como agora vemos, subjugados à crítica partidária. Não teremos muito o que contar, a não ser começar de novo. Tristeza infinita!

domingo, 16 de março de 2014

RITUAL DE PASSAGEM

Sinto o desejo do resgate de um ser humano integral, talvez jamais visto. O que penso que propõe essa nova categoria Contemporânea é justamente o experimentar outros mares sensoriais, a aceitação da arte pela arte e suas diversidades individuais ou compartilhadas. 
O grito por essa universalidade e respeito à individualidade humana, dentro das mais variadas realidades artísticas,  se faz notar mesmo que timidamente desde as mais remotas eras, ora sendo aceita e muitas vezes desmoralizadas por irem de encontro às REGRAS da massificação e do moralismo integrando claramente conceitos de manipulação. 
Se a arte imitasse a vida, não haveriam perseguições aos artistas(como se vê na época da ditadura), não haveria a dita escola "prussiana" até nos dias de hoje. O medo, a castração e a disseminação de conceitos sobre o que é certo ou errado, convive e destrói simbióticamente nossas mentes desde quando se possa lembrar, possuindo nossos pais e ancestrais e se isso não caminhar para dentro de cada um de nós,  não poderemos vislumbrar uma sociedade integral, com seres humanos que tem conceitos e experiências peculiares à cada um. 
A  arte é a primeira expressão pura do que somos verdadeiramente, tolhida e massacrada de várias formas com o único intuito de manipulação em favor de poucos. 
A Arte imita a Vida? A Arte é a única capaz de reinventar-se, criar e dar voz ao inaudível, com a capacidade de transmutar-se, de reunir conceitos e destruí-los,e reinventá-los novamente,  à imagem e semelhança de algo muito maior que nós mesmos, que talvez seja ainda muito maior do que os que detém o poder dentro de um império capitalista e conservador.
Cari Lopez



LA BURBUJA DEL ARTE CONTEMPORANEO - Espanhol - 58 minutos

Vale a pena assistir!

MEDO DE ARTE CONTEMPORÃNEA

TEXTO DE SEBASTIÃO PEDROSA Aprendendo a ver arte com imagens de Eckhout


TEXTO DE SEBASTIÃO PEDROSA
Aprendendo a ver arte com imagens de Eckhout

Introdução


Uma das questões freqüentes que surgem entre os professores que começam a ensinar arte no ensino fundamental ou médio é: “O que realmente eu poderia dizer a uma criança ao se colocar em frente de uma pintura; como explicá-la?” Suas dúvidas e insegurança em emitir juízo  sobre uma obra de arte, resumem a dúvida de muitos professores quando se deparam diante de uma imagem. No entanto, mesmo sem o conhecimento prévio da obra ou do artista em questão, é possível envolver crianças e jovens numa discussão produtiva sobre um objeto de arte. A discussão terá outra dimensão se apoiada em algumas categorias norteadoras de uma observação objetiva.
Ver  uma  obra  de  arte  implica  muitas  leituras  entrecruzadas.  Quando  nos deparamos diante de uma obra de arte, uma série de indagações nos ocorre: quem realizou esta obra? Quando foi realizada? Qual a motivação do artista para criá-la? De que a obra nos fala? Que sentimento nos é despertado? Podemos até mesmo ler numa  imagem  um  significado  tácito  ou  implícito  que  na  verdade  não  estava  na intenção do artista no momento da criação. Porém, para que o professor seja mais objetivo  na  ação  pedagógica,  apresento  aqui,  algumas  diretrizes,  baseadas  na discussão de especialistas no ensino da arte (1) que podem auxiliar o professor na tarefa de envolver o aluno na apreciação de uma determinada obra de arte.
I.
Apreciação de uma obra de arte:
Quatro operações sugeridas por Feldman
Apesar  de  vários  estudos  sobre  questões  metodológicas  ou  sistemas  que possam ajudar na apreciação da obra de arte (2), não há um modo único e verdadeiro ou até mesmo uma maneira linear de análise. Isso nos leva a fazer várias perguntas com relação ao objetivo da apreciação ou crítica em arte. É o objetivo da crítica em arte fazer a pessoa compreender o que o artista queria com sua obra? Ou mesmo ajudar ao espectador ser consciente de suas próprias respostas para uma determinada imagem?  É o objetivo maior explicitar o conteúdo temático que a obra sugere? Ou colocar o valor simbólico da obra no contexto histórico? Todas essas questões são cruciais na crítica ou apreciação da obra de arte, e cada uma exige um enfoque diferente de abordagem. No contexto educativo, a função pragmática da crítica em arte é ajudar ao estudante a ver e compreender determinada obra de arte, dentro do contexto cultural e artístico que pertence; isto é, ajudar ao estudante ter uma visão crítica da obra de arte. Uma preocupação dos programas ou propostas de arte-educação atualmente(1) é enfatizar o caráter epistemológico da arte na atividade pedagógica. Assim sendo,
1 Refiro-me aqui a Edmund Burke Feldman, Professor da Universidade de Geórgia, USA.
2 Infelizmente as traduções desses estudos quase não existem. Um trabalho excelente neste campo é de Michael Parsons, Aesthetics and Education e Compreender a Arte –Editorial Presença. O livro de Albert Manguel Lendo Imagens; Companhia das Letras, deve também ser um referencial para quem busca o aprofundamento sobre a compreensão da arte.1  Refiro-me aqui às propostas mais evidenciadas na Inglaterra (Critical Studies in Art and Design Education); nos Estados Unidos da América (Discipline- Based Art Education) e no Brasil (Proposta) arte deve ser tratada na escola como um corpo específico de conceitos e habilidades que deve ser aprendido e dominado. Portanto, a apreciação da arte ou crítica da arte não apenas ‘explica’ o conteúdo da obra de arte mas se coloca como um processo ou instrumento de aprendizagem. O que se quer com a apreciação da arte na ‘Proposta Triangular’(2) por exemplo, é fazer com que o estudante possa entender o objeto de arte (de artistas de renome ou criado por ele) através de habilidades e conceitos desenvolvidos nas disciplinas ligadas à arte (disciplinas de atelier, história da arte, crítica  de  arte).  Esta  habilidade  não  surge  de  modo  espontâneo  mas  sim  do desenvolvimento    de    atitudes    válidas,    baseadas    em    algumas    técnicas    ou procedimentos. Um texto que já se tornou clássico, na ajuda de arte educadores, para esta tarefa é de autoria de Edmund Feldman(3). O autor dedica uma parte deste livro discutindo técnicas que possam ajudar educadores e educandos a crescerem como apreciadores  de  arte.  Para  se  ter  uma  identificação  e  conseqüentemente  uma compreensão clara da obra de arte ele opina que a pessoa deve exercitar sua atenção através  de  quatro  operações  essenciais,  a  saber:  1-  Descrição,  2-  Análise,  3- Interpretação, e 4- Julgamento.
Vejamos o que significa cada uma dessas operações:

1- Descrição: Neste estágio o autor sugere se fazer uma lista detalhada de objetos e formas contidos na obra; descrevendo tudo o que se vê. Esse exercício ajuda o observador a se deter mais  longamente  a observar a obra  e ao  mesmo  tempo descobrir coisas ou detalhes que não haviam sido captados à primeira vista. Trabalhos tradicionais de arte levam as pessoas (especialmente as que não têm o hábito de ver arte) a uma descrição quase que narrativa. Favorável a esta opinião é também Michael Parsons (4). Ele opina que uma obra abstrata apresenta, quase sempre, desinteresse àquelas pessoas pela ausência de elementos objetivamente reconhecíveis. Nesse tipo de  obra  temos  de  descrever  as  formas,  cores,  espaço  e  volumes  que  vemos, adicionados às suas propriedades específicas como áspero, liso, brilhante, vertical, longitudinal, etc. Descrever o aspecto técnico da obra é também recomendado neste estágio. Tentar descrever a maneira pela qual a obra foi realizada. Como a tinta foi aplicada à superfície da tela, como o encaixe da escultura foi realizado, etc. Deve-se evitar palavras ou expressões carregadas de sentimento ou preferência a fim de que a descrição da obra seja a mais objetiva possível.

2- Análise: É a observação do procedimento daquilo que vemos na obra de arte. Aqui, o intento é de descrever a relação entre as coisas que vemos na obra em estudo. Por exemplo, como as formas afetam ou se influenciam umas às outras. Esse processo é chamado de ‘análise formal’. Estuda/se a relação de tamanho, localização das formas no espaço, a relação cor e textura, textura e superfície, espaço e volume, a relação de valores tonais, a relação luz-sombra, a qualidade da marca ou  forma, descobrem-se as formas negativas, como também as qualidades emocionais e idéias transmitidas pela obra de arte. Estas duas operações, descrição e análise, ajudam a:
1- Promover um completo exame da obra; (Triangular). Ver Barbosa, Ana Mae T. Bastos - A Imagem no Ensino da Arte. São Paulo/Porto Alegre; Perspectiva/Iochpe, 1991.
2 Proposta surgida a partir da prática do ensino da arte no MAC/ USP a partir de 1986.
3 Feldman, Edmund Burke - Becoming Human through Art; 1970; Obra citada.
Parsons, Micheal J. - How We Understand Art; Cambridge University Press; 1987. Reprinted 1990/ 92.
2- Diminuir a tendência do observador em apressar-se por conclusões;
3- Desenvolver habilidade em observação - condição essencial para a compreensão das
artes visuais;
4- Acumular os fatos visuais que formarão a base para a interpretação crítica.

3- Interpretação: É o estágio em que, baseado nos elementos descritos e analisados da obra, o observador dar significado ao trabalho de arte. Não se tenta aqui traduzir qualidades visuais em combinações verbais. Usam-se palavras para descrever idéias que explicam as sensações e sentimentos que temos diante do objeto de arte. Neste estágio, explica-se o trabalho de arte, qual o seu objeto ou fim, porém não se quer, com isso, explicar o propósito do artista, a sua intenção.  Isto  é uma outra questão.  A  obra  não  oferece  esta  informação.  Aqui,  afirma-se  apenas  o  que  a evidência visual parece significar. A melhor interpretação é aquela que se baseia apenas num grande corpo de evidência visual proveniente da própria obra, como também a que faz a mais significativa conexão entre a obra e as pessoas que a observam. Como construir uma interpretação? Com o corpo de elementos observados, formaliza-se  uma  hipótese,  baseada  também  nos  sentimentos.  Não  se  rejeita  as primeiras impressões. É importante que o espectador ou crítico pergunte a si mesmo o que há de comum entre essas impressões e as relações descritas na análise formal. É um exercício para aprender a confiar em si mesmo, acreditar nas suas observações.

4- Julgamento: Neste estágio decide-se sobre o valor estético de uma obra de arte. É o momento de explicitar as razões porque o trabalho em estudo é bom ou ruim. As razões para se julgar um trabalho excelente ou pobre têm de ser baseadas numa filosofia da arte. O autor sugere três enfoques filosóficos sob os quais uma obra pode ser justificada: formalismo, expressionismo e instrumentalismo.

Formalismo - Esta corrente enfatiza a importância e a maneira de como os elementos visuais se agrupam ou se relacionam na obra de arte. A harmonia das partes que compõem o todo é essencial para quem analisa a obra sob este enfoque filosófico. Mas como decidir que cada parte se harmoniza entre si? Não há uma regra lógica, o crítico ou o professor tem que se apoiar na impressão (ou nas sensações). A harmonia expressa através do justo equilíbrio dos elementos que formam a obra provoca ao espectador uma sensação de equilíbrio e bem-estar.

Expressionismo   -   Os   que   optam   por   esta   linha   se   interessam   pela profundidade e intensidade da experiência provocada pelo contato com a obra de arte. Para estes um trabalho de arte excelente pode ser feio. Arte deve comunicar idéias e sentimentos, vigorosamente, com convicção. Baseiam-se em duas regras para julgar a excelência de uma obra. O trabalho bom é aquele : a) que tem força em provocar emoção; b) que comunica as idéias de maior significância. Segundo este enfoque um grande trabalho surge da vontade de comunicar a experiência vivida pelo artista. A obra pode ser abstrata. Mas abstração deve ser um instrumento que o artista usa para intensificar a expressão do significado da experiência vivida. Assim, a arte tem de ser convincente,  real  e  emocionalmente  efetiva.  A  contemplação  passiva  de  formas organizadas é irrelevante. Ao contrário, importante é o uso de sinais e símbolos, como também a apropriação de metáforas e analogias.
Instrumentalismo   -   Como   o   formalista   é   interessado   na   beleza,   o expressionista na profundidade ou intensidade de comunicação, o instrumentalista é interessado  na  efetividade  de  propósito  da  arte.  Arte  a  serviço  das  necessidades humanas estabelecidas por instituições sociais, como a igreja, o estado, o econômico, o político. A excelência de um trabalho de arte para o instrumentalista está na força que a obra pode mudar o comportamento humano de quem a contempla. A obra deve provocar o desejo. Uma grande obra se torna real apenas quando serve uma causa importante. As qualidades técnicas e imaginativas do artista precisam ser organizadas por uma idéia que seja maior ou mais importante do que as emoções íntimas do próprio artista. Assim, uma técnica excelente aplicada a um  propósito trivial resultará numa obra medíocre. A grandeza da obra está na grandeza do propósito. Para o instrumentalista as formas “perfeitamente organizadas” significam a conexão mais próxima entre a aparência e a intenção social da obra de arte.
De acordo com Feldman, o proponente do método descrito, compreender e justificar o valor de uma obra de arte pode ser feito sob as diretrizes de qualquer um desses  enfoques  filosóficos.  Porém,  para  o  principiante  na  prática  da  apreciação crítica  é  importante  iniciar  com  o  exercício  da  descrição,  seguido  da  análise  e interpretação e só então aventurar no campo do julgamento, fundamentando-se numa filosofia da arte que seja mais apropriada à obra em estudo.
Complementando as operações sugeridas por Feldman, mas se aproximando de  suas  categorias  apontadas  acima,  Rod  Taylor  (5)  apresenta  quatro  pontos fundamentais que ajudam na compreensão do objeto de arte:

1- Conteúdo: Qual a temática da obra? Ela trata de que? Trata de um assunto acidental  ou  é  um  veículo  que  reflete  a  preocupação  social,  religiosa,  moral  ou política do artista ou de quem a comissionou? Foi o tema observado diretamente, de memória ou imaginado? foi tratado de forma representacional (mimética) ou com exageros  deliberados,  distorção  ou  abstração?  Por que?  O  tema está evidente na superfície da obra ou está oculto, fazendo-se necessário o uso de alusões através de símbolos, analogias, metáforas?

2- Forma: Como foi a obra organizada? Está em harmonia com o conteúdo? Há contradição na organização  dos  elementos?  Que tipo  de escala  cromática  foi utilizada?  É  por  exemplo,  harmoniosa  ou  construída  por  contraste?  Há  uma  cor predominante,  ou  duas  ou  mais  cores  têm  igual  significância?  Há  uma  forma predominante ou é composta de seqüência de formas interrelacionadas? Há formas repetidas, linhas, ritmos, que determinam o ‘designe’ da obra? A obra possui uma unidade ou  variedade  de  texturas?  A  obra  se  apresenta  com  uma  unidade,  ou  é agradável em algumas partes e insatisfatória como um todo?

3-  Processo:  Como  e  de  que  a  obra  foi  construída?  Que  materiais, instrumentos, processos e técnicas o artista usou? Como e em que parte deve ter o artista iniciado a obra? Que estágios deve ter passado a obra do início ao final da execução?  Será  que  o  artista  se  apoiou  em  estudos  prévios  (esboços,  fotografia, maquetes, colagens)? A obra foi executada rapidamente ou exigiu um período de execução longo? Que tipo de habilidade deve ter necessitado o artista para produzir a obra?

5Taylor, Rod  Educating for Art - Critical Response and Development; Longman; Essex - UK; 1986; 327pp. Esta obra apresenta os fundamentos teóricos e práticos da Arte Educação na Inglaterra a partir do início da década de 80, denominada ‘Critical Studies in Art and Design’.


4- Caráter: A obra lhe afeta de alguma forma? Ela capta um sentimento ou emoção  que  você  já  tenha  experimentado  em  outra  situação?  Ela  passa  algum sentimento sobre a vida ou natureza? Você pode imaginar de que sentimento o artista era possuído enquanto produzia a obra? Como classifica a obra: silenciosa/ruidosa, tranqüilizante/  perturbadora,  feliz/triste,  relaxante/estridente  como  humor  que  ela passa e no sentimento que ela provoca? O seu humor se conserva inabalado ou a obra em questão o alterou? Se o seu humor foi alterado pela obra, quais as qualidades desta obra?

Quando  um  trabalho  de  arte  atrai  um  espectador,  acontece  certamente  pela combinação de alguns ou de todos esses elementos. Fragmentar a observação da obra limitando-se apenas a um dos quatro aspectos pode ser pernicioso. Pesquisas têm revelado que visitantes de galerias de arte gastam apenas uma média de seis a sete segundos diante de uma obra. O uso ou aplicação sistemática das quatro categorias de Taylor oferece uma contribuição significante para o aluno compreender uma obra de arte, qualquer que seja a sua natureza.

II.       Lendo Imagens de Albert Eckhout

Como aplicaríamos as idéias acima apresentadas na leitura de algumas imagens de Eckhout, por exemplo, “A Mulher Tarairu” (1641, óleo sobre tela, 2,65m X 1,57m; Museu Nacional da Dinamarca.
Talvez a melhor estratégia não seja antecipar informações, mas engajar o olhar do aluno na observação e discussão do que vê, através de perguntas instigantes.
Eckhout –“A Mulher Tarairu”,1641, óleo s/ tela; 2,65 m X  Eckhout – Colheita Tropical, 1640; Óleo  s/ tela 1,57m; Museu Nacional da Dinamarca90 X 90 cm. Museu Nacional da Dinamarca

Operação1: Descreva o que você vê nessa imagem. Há muitos elementos na sua composição. É possível a identificação rápida de coisas familiares, mas não é possível  ver  tudo  ao  mesmo  tempo.  Observe  cada  detalhe  fazendo  o  esforço  de denominar  cada  coisa.  Faça  uma  lista  daquilo  que  você  identificou  na  pintura. Organize a lista numa escala de hierarquia, por exemplo, conforme o tamanho.

Operação 2: De que maneira está essa pintura de Eckhout organizada? Quais os elementos que se destacam? Como se comporta um elemento em relação ao outro? Qual a cor predominante? Que outras cores estão presentes na pintura? Que hora do dia sugere a luminosidade do quadro? Existe um ponto focal de interesse? Qual? A personagem principal parece está em movimento ou parada? Para onde ela olha? De que maneira está vestida? Que assunto trata a pintura?

Operação 3: Pelos detalhes e dimensão do quadro quanto tempo Eckhout deve ter  gasto para pintar esta obra? Como ele deve ter coletado informações para pintar este quadro? Baseados no que vemos na pintura o que significa essa mulher no centro da paisagem, e o os elementos em volta dela ? Você acha que a mulher na pintura se sente incomodada, confortável ou indiferente? Conhece outra pintura parecida com esta?

Operação 4: Você gostaria de ter esta obra na sala de sua casa? Por que? Sugira o motivo para o qual esta obra foi realizada. Você acha que essa pintura foi criada com alguma função? Por que? Que sentimento essa pintura lhe passa? Se você pudesse alterar a imagem o que você faria?


Em  1636  Albert  Eckhout  (1610-1666)  foi  convidado  por  Maurício  de  Nassau  à Pernambuco para  fazer  registros  pictóricos  da  fauna,  da  flora  e  de  tipos  étnicos brasileiros. Ficou aqui cerca de oito anos. Sua obra, enviada à Europa, pouco restou preservada;  muitas  pinturas  foram  destruídas  por  incêndios  e  guerras;  mas  se encontram no Museu Nacional da Dinamarca 12 naturezas-mortas, com dimensão de 90 X 90 cm retratando frutos e legumes tropicais. São pinturas que primam pelo detalhe  e  informação  visual  realista;  os  elementos  ocupam  o  primeiro  plano  do quadro, numa forma de “close-up”, despojados de todos os elementos excessivos, ficando apenas os frutos da terra contra um céu misterioso. Essas pinturas fazem um equilíbrio entre a precisão botânica e a sensualidade opulenta à maneira da pintura de natureza-morta holandesa do período. O trabalho de Willem Kalf, seu conterrâneo, é um bom exemplo de comparação. Um pouco mais de sessenta anos depois Coorte, também holandês, fazia naturezas-mortas ao estilo de Eckhout (ver ilustração).
Coorte – Feixe de Aspargos, óleo s/ tela, 1703
Os artistas holandeses desse período aprenderam a reproduzir a natureza de maneira tão fiel quanto um espelho que reflete uma imagem. Das pinturas com temática étnica em grande escala (2,67 X 1,78 m), oito se destacam pela verticalidade na composição. As plantas e figuras eretas contrastam contra um horizonte baixo, na altura de um terço do quadro. São figuras isoladas, de olhar fixo no espectador, como se tivessem pousando para uma foto. Em sua volta, flores, frutos, animais, parecem denunciar a fertilidade da nova terra.  As  pinturas  de Eckhout  não  só  denunciam  a origem  e influência do mestre como também refletem o motivo para o qual foram pintadas: informar ao Europeu como se comporta a natureza do outro lado do oceano. Assim, também os painéis com tipos étnicos, sempre verticais, queriam desvendar o mistério do desconhecido, informando visualmente - pois a fotografia ainda não existia - a diversidade de uma outra cultura e uma outra realidade. Eram pinturas para informar sobre a flora e a fauna, sobre a relação do homem com a terra, os modos alimentares, as relações entre as raças, in soma, informavam ao ‘Velho Mundo’ o ‘modus vivendi’ do ‘Novo Mundo’.

IV. Considerações Finais

A exposição da obra de Eckhout aqui no Recife, por ocasião da inauguração do  Instituto  Ricardo  Brennand  é  uma  oportunidade  inédita  para  o  recifense  e especialmente para uma grande população escolar – professores e alunos – da região metropolitana  que  se  beneficiará  da  ação  educativa  proposto  pelo  programa. Professores, crianças e jovens de toda região são convidados a ver a obra de Eckhout e  desenvolver o seu olhar numa ação que envolva o refletir e o fazer arte. Esse programa educativo pretende provocar uma reflexão e levar esse vasto público à traduzir histórias que se ocultam nas imagens de Eckhout. São histórias que falam de um tempo remoto (Séc. XVII), histórias que falam dos costumes e hábitos de um povo, da botânica, da zoologia e da geografia. É, portanto uma proposta de ensino da arte com o apelo de uma ação interdisciplinar porque as imagens de Eckhout são possuidoras de matéria prima que servem a vários olhares. Se os professores e os diretores das escolas souberem usar bem essa oportunidade, teremos todos aprendido um pouco mais da nossa história, da nossa cultura e da nossa arte.
Sebastião Gomes Pedrosa
Professor Adjunto Departamento Teoria da Arte e Expressão Artística Universidade Federal de Pernambuco

Bibliografia

Barbosa, Ana Mãe Bastos A Imagem no Ensino da Arte. São Paulo/Porto Alegre; Perspectiva/Iochpe, 1991.
Feldman, Edmund Burke;     Becoming Human Through ArtAesthetic experience in the school; Prentice-Hall International, Inc. London; 1970.
Parsons, Michael  Compreender a Arte, Editorial Presença, Lisboa, 1992. Parsons, Micheal  J.               How We Understand Art; Cambridge University Press; 1987. Reprinted 1990/ 92.
Manguel, Albert Lendo Imagens; Companhia das Letras, São Paulo,2001. Taylor, Rod                           Educating for Art - Critical Response and Development; Longman; Essex - UK; 1986; 327pp
Websites:
http://www.itaucultural.org.br/aplice…/index.cfm?fuseaction=Detalhe&CD_Verbete=

Cadernos de Pesquisa - Image reading, visual culture and educational practice

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