O termo Niilismo surge na literatura russa, na obra “Pais e
Filhos” de Ivan Turgueniev sendo posteriormente utilizado por Dostoivski, e é
utilizado para definir o homem como um negador de valores, porém na filosofia,
Friedrich Wilhelm Nietzsche o leva além dessa interpretação o tornando talvez
uma das correntes de pensamento mais intrigantes do mundo contemporâneo.
Para Nietzsche, o niilismo não surge de uma falta de
indigência moral ou psíquica, pois se assim fosse acabaria por ser contraditório,
já que sua essência está na própria moral cristã. O homem chega ao niilismo
quando se encontra perante uma falsidade contida nos ensinamentos cristãos,
pois essa descoberta inicia um processo onde o homem passa a refletir sobre
todos os valores da sociedade. Junto com a ruína do cristianismo surge na mente
uma desconfiança total de tudo que o cerca, tudo perde o sentido, o homem
percebe que vive para o nada e acaba por perder toda as ambições e vontades.
Porém o niilismo em estado psicológico só poderá ocorrer
passando por três etapas, sendo que a primeira se dá quando procuramos um
sentido em todo o acontecer que não está contido nele, e nessa busca acabamos
por perder o ânimo, ou seja, se chega ao niilismo quando tomamos consciência do
desperdício de força, da tormenta do “em vão”. A segunda maneira se dá quando o
homem se coloca sob uma totalidade, alcança uma espécie de monismo onde ele
consegue se libertar se tornando líder de si mesmo, eliminando a necessidade de
venerar e divinizar algo. E finalmente após passar por essas duas etapas resta
como escapatória ao homem condenar o mundo do vir-a-ser como ilusão, e inventar
um mundo que esteja para além dele. Porém, tão logo esse mundo seja criado, o
homem percebe que o fez por mera necessidade psicológica e que não tem nenhum
direito a ele, e a partir daí o homem se encontra na terceira etapa do
niilismo, que leva o homem a total descrença em um mundo metafísico, levando-o
a aceitar a realidade do vir-a-ser como única realidade e impedindo a si a
crença em qualquer via dissimulada que o leve a ultramundos e falsas
divindades, o homem então passa a não mais suportar esse mundo, já que descobre
que não se pode negá-lo.
“Tudo que é sólido desmancha no ar, tudo que é sagrado é
profanado, e o homem é, finalmente, compelido a enfrentar de modo sensato suas
condição reais de vida e suas relações com seus semelhantes.”
Ao chegar no pleno estado niilista o homem passa a não mais
poder se persuadir sobre um verdadeiro mundo, já que não lhe resta mais
fundamento para isso. As categorias “fim”, “unidade” e “ser”, as quais ele
utilizava para impor ao mundo um valor, lhe foram tiradas, tornando o mundo sem
valor. A autoridade sobre-humana (divindade) não é mais necessária, mas isso
não quer dizer que não há necessidade de uma autoridade. Então, o velho hábito
da autoridade traz a consciência em primeira linha, uma autoridade pessoal
(sendo dessa maneira quanto mais desprendia da teologia mais imperativa se
torna a moral), porém, a vontade de fugir da responsabilidade faz com que o
homem caia muitas vezes no fatalismo. Essa total decepção causada pelo
desprendimento das falsidades teológicas pode, assim como no budismo, levar a
um desprendimento material e proporcionar um desenvolvimento individual que talvez
alcance o ponto de livrar o homem da perca total do ânimo que o leva ao
fatalismo.
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