sexta-feira, 14 de março de 2014

Niilismo em Nietzsche por Prof. Rafael Caproni


O termo Niilismo surge na literatura russa, na obra “Pais e Filhos” de Ivan Turgueniev sendo posteriormente utilizado por Dostoivski, e é utilizado para definir o homem como um negador de valores, porém na filosofia, Friedrich Wilhelm Nietzsche o leva além dessa interpretação o tornando talvez uma das correntes de pensamento mais intrigantes do mundo contemporâneo.

Para Nietzsche, o niilismo não surge de uma falta de indigência moral ou psíquica, pois se assim fosse acabaria por ser contraditório, já que sua essência está na própria moral cristã. O homem chega ao niilismo quando se encontra perante uma falsidade contida nos ensinamentos cristãos, pois essa descoberta inicia um processo onde o homem passa a refletir sobre todos os valores da sociedade. Junto com a ruína do cristianismo surge na mente uma desconfiança total de tudo que o cerca, tudo perde o sentido, o homem percebe que vive para o nada e acaba por perder toda as ambições e vontades.

Porém o niilismo em estado psicológico só poderá ocorrer passando por três etapas, sendo que a primeira se dá quando procuramos um sentido em todo o acontecer que não está contido nele, e nessa busca acabamos por perder o ânimo, ou seja, se chega ao niilismo quando tomamos consciência do desperdício de força, da tormenta do “em vão”. A segunda maneira se dá quando o homem se coloca sob uma totalidade, alcança uma espécie de monismo onde ele consegue se libertar se tornando líder de si mesmo, eliminando a necessidade de venerar e divinizar algo. E finalmente após passar por essas duas etapas resta como escapatória ao homem condenar o mundo do vir-a-ser como ilusão, e inventar um mundo que esteja para além dele. Porém, tão logo esse mundo seja criado, o homem percebe que o fez por mera necessidade psicológica e que não tem nenhum direito a ele, e a partir daí o homem se encontra na terceira etapa do niilismo, que leva o homem a total descrença em um mundo metafísico, levando-o a aceitar a realidade do vir-a-ser como única realidade e impedindo a si a crença em qualquer via dissimulada que o leve a ultramundos e falsas divindades, o homem então passa a não mais suportar esse mundo, já que descobre que não se pode negá-lo.  

“Tudo que é sólido desmancha no ar, tudo que é sagrado é profanado, e o homem é, finalmente, compelido a enfrentar de modo sensato suas condição reais de vida e suas relações com seus semelhantes.”  

Ao chegar no pleno estado niilista o homem passa a não mais poder se persuadir sobre um verdadeiro mundo, já que não lhe resta mais fundamento para isso. As categorias “fim”, “unidade” e “ser”, as quais ele utilizava para impor ao mundo um valor, lhe foram tiradas, tornando o mundo sem valor. A autoridade sobre-humana (divindade) não é mais necessária, mas isso não quer dizer que não há necessidade de uma autoridade. Então, o velho hábito da autoridade traz a consciência em primeira linha, uma autoridade pessoal (sendo dessa maneira quanto mais desprendia da teologia mais imperativa se torna a moral), porém, a vontade de fugir da responsabilidade faz com que o homem caia muitas vezes no fatalismo. Essa total decepção causada pelo desprendimento das falsidades teológicas pode, assim como no budismo, levar a um desprendimento material e proporcionar um desenvolvimento individual que talvez alcance o ponto de livrar o homem da perca total do ânimo que o leva ao fatalismo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário